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Encontro grupo "Ouvidores de vozes"

Quinta, 12 de Dez de 2024 - 14h

Em -236 dias

Encontro grupo "Ouvidores de vozes"

Estima-se que em torno de 30% da população já ouviu vozes em algum momento de

sua vida. Estas são vozes que outras pessoas não ouvem. Algumas pessoas têm uma boa relação

com estas vozes, entendendo que elas são conselheiras e trazem boas influências. Outras

pessoas têm uma relação mais difícil, sofrendo muito ao ouvi-las.

Os Grupos de Ouvidores de Vozes tiveram origem a partir do Movimento Internacional

dos Ouvidores de Vozes (Hearing Voices Movement). Esse movimento busca promover a

compreensão e a aceitação das experiências de ouvir vozes por pessoas que vivenciam esse

fenômeno, bem como apoiar essas pessoas a lidar com suas experiências de forma positiva.

O movimento surgiu no início na década de 1980, o psiquiatra holandês Marius

Romme e sua paciente Patsy Hage. Patsy Hage era importunada por suas vozes e nenhum

medicamento era capaz de cessá-las. Inspirada pela leitura de um livro que convidava a refletir

sobre a desmedicalização, Patsy Hage começou a perceber suas vozes de forma muito singular,

passando a construir novos sentidos sobre sua experiência. Marius Romme observou que o fato

de Hage atribuir uma origem para suas vozes deu-lhe grande conforto. Neste sentido, Romme

se perguntou se Hage seria capaz de compartilhar tal estratégia com outros ouvidores, bem

como, se esses ouvidores validariam a experiência compartilhada. A partir disto, sucedeu-se

sua participação em um programa de televisão, com significativa repercussão e resposta de

muitos ouvidores de vozes. Em outubro de 1987, foi realizada na Holanda uma conferência

com a participação de 360 ouvidores de vozes, sendo este o primeiro momento em que eles se

reuniram publicamente a fim de discutir, fora do contexto médico, suas experiências. Após este

evento, denominado “Pessoas que ouvem vozes”, Romme, Escher (jornalista e pesquisadora

da temática) e Paul Baker (educador social, familiar de ouvidor e defensor dos direitos

humanos), iniciaram atividades para o estabelecimento de uma rede dos ouvidores. Com isto,

ampliaram-se os estudos e iniciativas sobre suporte de pares neste campo, a priori na Holanda

e posteriormente na Inglaterra, desdobrando-se ao longo dos anos por outros países,

constituindo-se o Movimento dos Ouvidores de Vozes (CARDANO, 2018).

O Movimento de Ouvidores de Vozes sugere seis pressupostos fundamentais sobre a

audição de vozes: (1) O fenômeno de ouvir vozes faz parte da natureza humana, qualquer

pessoa pode ter essa experiência. (2) Cada pessoa atribui um sentido diferente para suas

vozes, e a aceitação desses diferentes sentidos é essencial para a busca do bem-estar; (3) É

importante que cada ouvidor se aproprie de sua experiência com o objetivo de ampliar a

compreensão dos sentidos que podem ser atribuídos às vozes. Os grupos de ouvidores de vozes


fornecem um espaço seguro para essa exploração, com uma multiplicidade de explicações

mantidas como um princípio que deverá ser compartilhado pelos seus membros; (4)

Ouvir vozes deve ser entendido dentro dos contextos de vida, sendo que ao falar sobre as

vozes a pessoa tem a oportunidade de se aproximar mais desta experiência; (5) É mais

útil aceitar as vozes do que a tentativa de as eliminar, pois aceitar a audição de vozes

como realidade subjetiva do indivíduo aumenta a possibilidade de sucesso em conviver

com esse fenômeno; (6) Grupos de ouvidores de vozes são importantes para auxiliar as

pessoas a entenderem suas experiências e darem novos significados a elas, ganhando mais

qualidade de vida.

Este Movimento está presente hoje em diversos países do mundo, como Holanda,

Inglaterra, Itália, França, Estados Unidos, Canadá, Brasil entre outros. Em Ribeirão Preto-SP,

o grupo de ouvidores de vozes foi formado em 2015, em uma colaboração com o Laboratório

de Ensino e Pesquisa em Psicopatologia, Drogas e Sociedade (LePsis-USP) - Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP).

Atualmente, com a parceria do LePsis-USP, o grupo tem ocorrido tanto de forma

remota como presencia. O grupo remoto acontece com uso da plataforma Google Meet, nas

quintas-feiras, às 10 horas. O grupo presencial acontece no Centro de Atenção Psicossocial III

(CAPS 3), localizado no bairro Ipiranga.

O dia 14 de setembro é reconhecido como o Dia Internacional dos Ouvidores de Vozes

(International Hearing Voices Day) no movimento dos ouvidores de vozes. A data é marcada

por eventos e atividades realizadas globalmente para aumentar a conscientização sobre a

experiência de ouvir vozes e combater o estigma e a discriminação associados a ela. O objetivo

é promover uma compreensão mais ampla de que ouvir vozes é um aspecto humano comum e

que pode ocorrer em diferentes contextos.

No Dia Internacional dos Ouvidores de Vozes, as organizações e os grupos de apoio ao

redor do mundo realizam palestras, seminários, workshops, atividades comunitárias e

campanhas de conscientização para educar o público sobre a diversidade das experiências de

ouvir vozes e fornecer informações sobre abordagens de apoio e tratamento que possam ser

úteis para as pessoas que vivenciam essas experiências.

Em Ribeirão Preto, em 2021 foi aprovada a Lei 14.609 em 30 de setembro de 2021 que

incluiu no calendário do município de Ribeirão Preto – SP o “Dia de reconhecimento dos

Ouvidores de Vozes” como uma forma de propor ações que conscientizem a sociedade da

importância de ouvir as histórias que as pessoas que possuem essa experiência têm a contar.


A data é uma oportunidade para ampliar a discussão e desconstruir estereótipos,

promovendo uma perspectiva mais compreensiva e empática em relação às pessoas que ouvem

vozes.

Em 2022, no dia 14 de setembro, foi realizado o evento “Ouça nossas vozes”, no ECEU

- Espaço Cultural de Extensão Universitária Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.

Na data, alguns ouvidores contaram suas experiências com as vozes, além de realizarem

apresentações musicais.